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sexta-feira, 4 de junho de 2010

Um Pouco de Florbela Espanca, uma poetisa à frente do seu tempo

Florbela D'Alma da Conceição Lobo Espanca, nascida em Alentejo, Vila Viçosa, em 1894. Produziu uma das mais belas obras poéticas de lingua Portuguesa . Seu primeiro poema, A Vida e a Morte, foi escrito aos sete anos de idade, comprovando, desde cedo, uma personalidade depressiva . Sua vida foi marcada por amores frustrados, incompreensões e tragédia. Filha de João Maria Espanca, fruto de um relacionamento extraconjugal dele com Antonia Conceição Lobo, daí nasceu também seu irmão Apeles, morto em acidente em 1927. Muito avançada para sua época, não era bem vista pela sociedade local. A neurose de Florbela deu os seus primeiros sinais quando de sua entrada na Universidade e piorou quando separou-se de seu primeiro marido Alberto Moutinho em 1921,após um aborto espontaneo. Neste mesmo ano passa a viver com Antontio Guimarães, casando-se depois com ele. Mais uma vez sofre outro aborto e separa-se pela segunda vez. Sua familia corta relações com ela e seu estado psicológico piora. Em 1925 casa-se novamente com Mario Lage e vai morar em Matosinhos, no Porto.

No dia oito de Dezembro de 1930, suicida-se ingerindo dois frascos de Veronal. Essa teria sido a sua terceira tentativa de suicidio a qual não resistiu.


A Vida e a Morte
O que é a vida e a morte
Aquella infernal enimiga
A vida é o sorriso
E a morte da vida a guarida

A morte tem os desgostos
A vida tem os felises
A cova tem as tristezas
I a vida tem as raizes

A vida e a morte são
O sorriso lisongeiro
E o amor tem o navio
E o navio o marinheiro

Auctora Florbella Espanca
Em 11-11-903
Com 8 annos d'Idade

(Florbela Espanca, «Esparsos», in «Poesia Completa»)


Lágrimas ocultas          ( Livro de  Mágoas - 1919)


Se me ponho a cismar em outras eras
Em que ri e cantei, em que era querida,
Parece-me que foi noutras esferas,
Parece-me que foi numa outra vida...


E a minha triste boca dolorida
Que dantes tinha o rir das Primaveras,
Esbate as linhas graves e severas
E cai num abandono de esquecida!


E fico, pensativa, olhando o vago...
Toma a brandura plácida dum lago
O meu rosto de monja de marfim...


E as lágrimas que choro, branca e calma,
Ninguém as vê brotar dentro da alma!
Ninguém as vê cair dentro de mim!


Anoitecer          ( Livro de Soror Saudade - 1923)

A luz desmaia num fulgor de aurora,
Diz-nos adeus religiosamente...
E eu que não creio em nada, sou mais crente
Do que em menina, um dia o fui.... outrora

Não sei o que em mim ri, o que em mim chora,
Tenho bênçãos de amor pra toda a gente!
E a minha alma, sombria e penitente,
Soluça no infinito desta hora...

Horas tristes que são o meu rosário....
Ó minha cruz de tão pesado lenho!
Ó meu áspero e intérmino Calvário!

E a esta hora tudo em mim revive:
Saudades de saudades que não tenho
Sonhos que são os sonhos dos que eu tive...



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