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segunda-feira, 17 de março de 2014

Pesticida e Alzheimer


foto: Global Water Partnership/ Flickr – CC BY-NC-SA 2.0

Estudo aponta relação entre a exposição ao DDT, agrotóxico proibido em vários países, e o desenvolvimento dessa doença neurodegenerativa. O efeito da substância parece estar associado a fatores genéticos.

O contato com um pesticida pode aumentar a incidência e a severidade da doença de Alzheimer. Os mesmos dados que apontaram essa relação podem ajudar no desenvolvimento de um diagnóstico precoce e um tratamento mais eficaz dessa doença neurodegenerativa.
O chamado DDT foi banido na década de 1970 dos Estados Unidos. Antes disso, por cerca de 30 anos, foi usado para controlar insetos que destroem safras e causam doenças em humanos e animais de criação. No entanto, em vários países do mundo, essa substância tóxica, com muitos efeitos colaterais para humanos e meio ambiente, continua sendo usada para esses fins – muitas vezes, clandestinamente.
Estudo publicado em janeiro na versão on-line de Jama Neurology, feito pela equipe de Jason Richardson, da Universidade Rutgers (EUA), encontrou níveis elevados de subprodutos do DDT no sangue de portadores de Alzheimer em fase avançada, quadro marcado pela perda progressiva de memória. Os índices mais altos estavam em portadores com mais de 60 anos de idade – a idade média dos voluntários era de 74 anos.
Estudo encontrou níveis elevados de subprodutos do DDT no sangue de portadores de Alzheimer em fase avançada
O pesticida parece não ter esse efeito em todos. Segundo a equipe, é preciso suscetibilidade genética para que a substância faça aumentar o risco da doença. No estudo, dos 84 portadores de Alzheimer, 74 deles tinham níveis sanguíneos de subprodutos do pesticida quatro vezes mais altos que os 79 outros voluntários sem a doença. Entre aqueles 74, os que tinham o gene ApoE4 – que, sabe-se, aumenta o risco para Alzheimer – apresentaram problemas cognitivos ainda mais profundos que os outros portadores.
Outro dado impressiona: apesar de o DDT ter sido banido há mais de 30 anos dos Estados Unidos, os subprodutos desse pesticida foram encontrados em cerca de 80% das amostras de sangue coletadas e analisadas recentemente, para uma pesquisa, pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças daquele país. Estudos anteriores já haviam mostrado que o DDT e subprodutos aumentam no cérebro a quantidade de uma proteína que está associada ao desenvolvimento do Alzheimer.
A sensibilidade genética a esse fator ambiental pode iluminar o caminho até um método que possibilite um diagnóstico precoce do Alzheimer. Não se sabe ainda como os pesticidas interagem com o gene ApoE4.
Parece problema distante. Mas, segundo os autores, não o é, pois o DDT pode ainda estar sendo ingerido por meio do consumo de frutas, grãos e vegetais importados de países em que a substância é usada legal ou ilegalmente. No Brasil, o DDT foi banido em 2009.
A Universidade Emory e a Universidade do Texas, ambas nos EUA, também participaram da pesquisa, cujos dados sobre a relação entre pesticida e Alzheimer ainda precisam ser confirmados.

Cássio Leite Vieira
Ciência Hoje/ RJ

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