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sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Mania de escritor

Quem escreve tem mania de transformar pessoas reais em personagens. 

Lembrei-me de uma cena que me fez refletir, faz algum tempo. Estava numa loja de shopping e,  antes de me dirigir ao caixa, fiquei observando uma senhora, creio que de uns oitenta anos, sentada olhando uma foto. O olhar dela traduzia uma certa tristeza, pois, vez por outra, ela acariciava a foto. Como eu estava na dúvida se comprava ou não a mercadoria, e geralmente eu demoro um pouco para me decidir, sentei-me junto dela e aproveitei para satisfazer a minha curiosidade . Nem precisei perguntar nada, só fiz sorrir pra ela, que me devolveu com outro sorriso e me mostrou a foto de uma casa, tão esmaecida que acredito não existir mais. "Estou olhando a casa que morei com minha mãe", disse ela com uma voz grave. E, antes que eu dissesse algo, que nem sei o que seria, ela continuou: " sempre que me aborrecia eu corria pra lá e ficava dois três dias até me acalmar,  e depois voltava pra minha casa, mas agora fico só olhando, e pensando que se ela ainda existisse eu iria pra ficar de vez, e completou: casa de mãe é casa de mãe". Até achei que era senilidade da criatura e já ia perguntar se (naquela idade) ela estava sentindo falta da casa ou do aconchego da mãe. Mas não deu tempo, ela guardou a foto na bolsa, se levantou e foi ligeirinha ao encontro de uma senhora, talvez filha, sobrinha ou nora, que saiu andando na frente a passos largos, com ela atrás querendo alcançá-la. Fiquei na dúvida e com aquela frase dela na cabeça: "sempre que me aborrecia corria pra lá". Realmente, nada melhor que casa de mãe pra se asilar quando necessário, e se não a temos mais.... Ela estava muito lúcida, com certeza.

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