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segunda-feira, 19 de dezembro de 2016





A DESTRUIÇÃO DE POMPÉIA

https://principedaliberdade.wordpress.com/2016/12/17/a-destruicao-de-pompeia/


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A erupção do Vesúvio, ocorrida no ano 79 d.C., foi o evento mais catastrófico da Antiguidade. O vulcão lançou uma nuvem de púmices, cinzas e gases a uma altura de mais de 32 quilômetros, na proporção de 1,5 milhões de toneladas por segundo liberando, no total, uma energia mecânica e térmica cinquenta mil vezes maior do que a do bomba atômica de Hiroshima. Como resultado, as cidades de PompéiaHerculano e Oplontis, junto com os povoados Murécine, Boscoreale e Terzinho foram varridos do mapa e qualquer forma de vida (humana, animal ou até vegetal) que se encontrava dentro da área delimitada pela linha vermelha na figura abaixo cessou de existir.
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As construções das cidades foram cobertas e completamente escondidas por várias camadas de púmices, piroclasto, lamas vulcânicas e cinzas, de um mínimo de 6 até 25-30 metros de altura e foram descobertas, por acaso, em 1.748, ano em que iniciaram as primeiras escavações.
Breve história de Pompéia
A cidade foi fundada por volta do VII séculos a.C. pelos Oscos, um povo da Itália central, no local onde situava-se um importante cruzamento entre CumasNola e Estábia. Em seguida, com a chegada dos Gregos, entre 780 e 770 a.C., Pompéia entrou na órbita dos povos helênicos. Em 524 a.C., chegam também os Etruscos que tomam o controle da área mas, a partir de 474 a.C., os Gregos se reapossaram da cidade. Em 89 a.C. Pompéia tornou-se a todos os efeitos uma cidade romana e um forte impulso à romanização foi dada pela ascensão ao poder do imperador Augusto em 27 a.C.
A base da economia da região era, antes de tudo a agricultura, principalmente no que diz respeito à produção de vinho de excelente qualidade, frutas e hortaliças. Em segundo lugar, Pompéia tornou-se famosa pelo garum e pelas suas salinas.
Dentro da cidade prosperava o comércio e o artesanato, com a presença comprovada de não menos de quinze padarias, umas pastelarias, dúzias de bares (popinae) e lanchonetes (cauponae). Não faltavam hotéis, lavanderias (fullonicae), ourives, ferreiros, um grande mercado (macellum), um porto, lojas e, naturalmente, uns prostíbulos (lupanare) frequentados por escravos e clientes de baixa renda. Muito dinheiro era gasto para os afrescos, e imagem abaixo mostra a reconstrução gráfica da parte central da belíssima “Casa do poeta trágico”.
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Seria oportuno, antes de prosseguir, responder a uma pergunta bastante lógica: por qual motivo uma antiga população itálica resolveu fundar Pompéia, e outras cidades menores, bem aos pés de um vulcão ativo? A resposta é que, na época, ninguém sabia que o Monte Vesuvius era um vulcão. É também importante esclarecer que o Vesuvius era algo de muito diferente do atual Vesúvio. Efetivamente naquela área existiu, desde épocas remotas, um vulcão que, ocasionalmente, entrava em erupção de forma apocalíptica e os cientistas registraram pelo menos cinco grandes eventos anteriores ao do ano 79 d.C. sendo, o mais dramático, a erupção de Avelino por volta de 1.800 a.C., que engolfou diversos povoados da Idade do Bronze.
Com o passar dos séculos as populações da região perderam a memória histórica do desastre e o próprio cone vulcânico sofreu um lento processo de erosão que o transformou num morro baixo e aparentemente inofensivo: o Vesuvius, encoberto de vegetação, frequentado por pastores, agricultores, caçadores e namorados. Em suma, um lugar ameno rico de vida e de fontes de água mineral. A imagem sucessiva mostra uma comparação entre o que pode ser visto hoje (à esquerda) e o que se via 2.000 anos atrás (à direita).
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Além da altura modesta, o que mais contribuía a mascarar a natureza mortífera do Vesuvius era a presença, em suas encostas, de bosques, campos e vinhedos que o tornavam indistinguível dos outros montes da região. No entanto, sabia-se que na parte central e mais alta do Vesuvius, despida de vegetação, havia pedras calcinadas, cavernas e fendas na rocha mostrando sinais de fogo.
O geografo grego Estrabão (63-24 a.C.) já havia intuído a verdadeira natureza do lugar, chegando à conclusão que o monte era um antigo vulcão extinto. Uma opinião, essa, compartilhada pelo historiador Diodoro Sículo (90-30 a.C.) o qual afirmou que o outeiro havia expelido lava, igual oEtna. Mesmo assim não podemos deplorar a atitude daqueles antigos habitantes, que nada sabiam de vulcanologia, principalmente se considerarmos que nem o naturalista Plínio, o Velho (23-79 d.C.), que conhecia a região, havia se dado conta do perigo.
Um recado sinistro
No dia 5 de fevereiro do ano 62 d.C. o Vesuvius entrega uma primeira sinistra advertência: Pompéia, Herculano e Estábia são atingidos por um terremoto de magnitude 5,2 na escala Richter que provoca danos ingentes e um número importante de vítimas. Esse, e os abalos sucessivos, todos relativamente superficiais, indicam que a lava contida na câmara magmática está lentamente subindo junto com gases que, penetrando nas rochas, as fraturam gerando ulteriores tremores. O enxame sísmico continua nas semanas seguintes e outros sismos, embora mais fracos, se repetem com frequência preocupante até o dia da erupção.
Uma primeira consequência dos terremotos repetidos é que muitas casas ficam danificadas obrigando seus proprietários, de regra ricos romanos, a largar a cidade. É um duro baque para a economia duma região que, ao mesmo tempo, deve lidar com a concorrência dos vinhos produzidos na Gália (atual França), de qualidade um pouco inferior mas também mais baratos. Mesmo assim os pompeianos respondem à crise incrementando suas atividades e procurando novos mercados para exportar seus produtos. Quem mais se esforça para a retomada são os numerosos libertos que, em breve, acumulam fortunas inimagináveis como, por exemplo, os dois irmãos Vettii, cuja bela mansão é uma das mais visitadas pelos turistas. Segue a foto:
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É útil esclarecer que, embora a economia da Antiga Roma necessitasse de escravos, suas condições eram bem diferentes daquelas impostas em outras sociedades escravocratas mais recentes como, por exemplo, os Estados Unidos ou o Brasil imperial. Com efeito, desconsiderando aqueles que trabalhavam nas minas ou nas fazendas, os escravos urbanos tinham a quase certeza de serem alforriados em algum momento de suas vidas. Era uma prática comum e vantajosa para as duas partes: para os donos, pois os seus servos tinham o incentivo para executar suas tarefas com afinco; para os escravos que, destarte, podiam subir na escada social e até adquirir a cidadania romana. Os libertos permaneciam ligados a seus antigos proprietários para os quais gerenciavam os negócios mais rentáveis. Só para ter uma idéia, cerca de 80% da população de Herculano era composta por libertos e os arquelogistas comprovaram que a alimentação dos escravos era tão rica e variada como aquela de seus donos.
Mas, voltando ao assunto, os arqueologistas afirmam que, da população anterior ao terremoto de 62 d.C. estimada em 20.000 habitantes, no dia da erupção havia, em Pompéia, entre 8.000 e 12.000 pessoas sendo, a cidade, um imenso canteiro de obras. Inclusive, na semana que antecede a erupção, devido à progressiva deformação da crosta terrestre, o aqueduto urbano para de funcionar e mais habitantes, desapontados pela falta de água, vão embora.
Os romances e os filmes que retratam uma cidade opulenta cujos habitantes lúbricos e devassos se abandonam ao vício e às orgias até os últimos dias, são pura invenção, assim como as pretensas perseguições à comunidade cristã que, por sinal, nem existia na época. De fato, os estudiosos conseguiram inferir apenas a presença de pequenos grupos de Judeus, relativamente abastados, e perfeitamente integrados na sociedade romana.
Herculano
Com seus 3 ou 4 mil habitantes, clima mite e paisagem encantadora, era considerada a pérola do golfo de Nápoles: uma cidade pequena, tranquila e requintada ideal para veranear longe do barulho e da animação de centros comerciais como Pompéia. Infelizmente Herculano ficava muito próxima às encostas do Vesuvius sendo limitada na frente pelo mar e, nos lados, por duas torrentes que, ao longo dos séculos haviam cavado na falésia dois fundos canais.
Atualmente, apenas um quarto da cidade foi explorado, o resto permanece sepulto debaixo de quase 30 metros de material vulcânico.
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A poucas centenas de metros de Herculano surgia a imponente Vila dos Papiros, uma mansão que pertenceu ao sogro de Júlio César. O nome deriva da descoberta, efetuada durante as escavações, de uma biblioteca com 1.785 rolos de papiro carbonizados. No entanto, usando a técnica da imagem multi-espectro, é possível ler os papiros queimados e sabe-se que, além da biblioteca em língua grega, já descoberta, existe outra ainda maior de textos em latim.
Nos anos ’70 do século passado, o magnata americano Paul Getty mandou construir a Malibu (Califórnia) uma réplica exata da Vila dos Papiros, atualmente utilizada como museu. Na foto, uma reconstrução do pátio da Vila dos Papiros.
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O Armagedom
Chega, enfim, a manhã do 24 de outubro do ano 79 d.C.
Enormes quantidades de água contidas no lençol freático localizado acima da câmara magmáticasão vaporizadas pelo calor do magma (mais de 1.000° C) que está subindo rapidamente. A imane pressão do vapor quebra as últimas camadas de rocha que separam a lava da superfície provocando estrondos que se parecem com tiros de artilharia pesada.
Os lavradores das fazendas espalhadas nas férteis encostas do Vesuvius interrompem as suas atividades e uns fogem, a cavalo, em direção de Pompéia. Enquanto isso, milhares de pompeianos assustados observam uma estranha nuvem acinzada que, descendo do cume do monte, espalha uma fina camada de cinza (pisólitos) nos declives do vulcão até o povoado de Terzinho.
Quando, em torno do meio-dia, se espalham as más notícias trazidas pelos fugitivos, a preocupação aumenta e, enquanto a maioria corre para casa, outros montam a cavalo tentando por em salvo amigos e parentes que moram ao norte de Pompéia, na direção do Vesuvius. Ninguém imagina que esse é apenas o começo de uma imane tragédia.
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Às 13 horas em ponto, com um estrondo terrificante, a crosta terrestre se racha e uma densa coluna de fumaça começa a subir com velocidade supersônica. O “bang” é ouvido a Herculano 18 segundos depois e a Pompéia, mais distante, em 24 segundos. Logo em seguida, somente um silêncio irreal e soturno, como se a morte estivesse prestes a entrar em ação; os habitantes ficam ainda mais estarrecidos quando reparam que rochas enormes são projetadas para fora da coluna e começam a atingir não apenas as vertentes do Vesuvius, mas se espalham também nos arredores chegando a cair no meio do mar onde levantam imensas colunas de água.
Vários colonos de Terzinho estão entre as vítimas dessa chuva de rochedos, e outras são registradas a Herculano, que dista apenas seis quilômetros da coluna eruptiva. Para os herculanenses não há muitas opções, pois existe uma única estrada, já danificada pelos primeiros deslizamentos, que leva a Nápoles (norte) ou a Pompéia (sul). Uns poucos afoitos que podem cavalgar vão para o norte, mas a maioria, preferindo não correr riscos excessivos, resolve permanecer na cidade, de preferência perto da praia onde, teoricamente, seria possível um resgate pelo mar. Eles não sabem que as tentativas de socorro atuadas pelo almirante Plínio, o Velho, não irão dar certo devido o mar estar proceloso, a escuridão, o vento contra e até um bradissismo que, levantando o fundo do mar, impede às trirremes de Plínio de se aproximarem ao litoral.
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Em menos de 30 minutos a coluna alcança uma altura de 14 quilômetros e dela inicia a cair uma chuva de pequenas pedras de púmice que, sob a ação do vento, atinge todas as áreas ao sul doVesuvius, como mostrado no mapa acima. Embora essas pedrinhas sejam inofensivas, a camada nas ruas e nos telhados de Pompéia não pára de aumentar dificultando qualquer tentativa de abandonar a cidade. Inclusive, para piorar a situação, misturadas com as púmices estão pedras mais pesadas (piroclastos) que podem esmagar a cabeça dos transeuntes e já se contabilizam as primeiras vítimas.
Por volta das 14:30 a queda dos piroclastos diminui bastante mas, em contrapartida, o ar fica saturado de cinzas vulcânicas. São finas, irritantes e reduzem a zero a visibilidade, igual um forte nevoeiro. Os olhos ardem e a respiração se torna difícil: melhora um pouco pondo um pano úmido diante do nariz e da boca. Não é difícil imaginar qual pode ter sido o efeito da cinza sobre crianças e idosos…
Um dilema dilacera os pompeianos: ficar em casa aguardando que a situação melhore ou fugir? Correr o risco de perder os bens ou correr o risco de perder a vida? Por outro lado não é nada fácil caminhar sobre uma camada de pedregulhos e cinzas de meio metro de altura, quase no escuro e tendo que carregar os pais ou os filhos pequenos.
Os cientistas que pesquisam a dinâmica da erupção chegaram à conclusão que os cidadãos de Pompéia tiveram duas, no máximo três horas para escolher entre a vida e a morte. Quem se afastou rapidamente teve boas chances de sobreviver, os outros ficaram presos numa armadilha mortal. Infelizmente parece que a maioria ficou titubeando além do limite máximo e, quando enfim procurou um escape, já não havia mais saída.
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Os que optaram pela fuga tiveram que escolher a direção mais oportuna. Obviamente, acreditamos, ninguém foi na direção de Herculano, localizada no sopé do vulcão, e a grande maioria pegou a estrada que leva a Nocera, situada além do rio Sarno ou, em alternativa, desceu na direção de Estábia. O grande problema era representado pelo atravessamento do rio Sarno cujas águas haviam se tornado impetuosas e lamacentas em razão da grande quantidade de chuva de origem vulcânica. A ponte mais ao leste (no mapa, traço azul mais à direita), embora feita de pedras e tijolos, não aguentou a correnteza violenta e ruiu em poucas horas. A outra, de madeira (traço azul mais à esquerda), perto de Murécine, resistiu um pouco mais, mas enfim desabou deixando centenas de pessoas bloqueadas ao norte do rio. Aqueles que conseguiram transpor o Sarno se salvaram, ou outros pereceram.
Na verdade houve também outra possibilidade, ou seja, rumar para o norte ladeando a margem direita do rio Sarno e dando uma longa volta em torno do vulcão até alcançar a cidade de Nola: uma viagem terrível e perigosa. Não sabemos quantos conseguiram nessa empresa desesperada…
Dentro da cidade, em torno das 17 horas, a camada de púmice já se aproxima a um metro. Como um metro cúbico de púmice pesa meia tonelada, os telhados principiam a desabar matando, aos poucos, todos aqueles que haviam preferido se abrigar nas casas ou nos edifícios públicos (394 vítimas). É oportuno lembrar que os antigos pompeianos nunca tinham visto antes uma erupção e achavam que o fenômeno podia se resolver em poucas horas sem graves consequências.
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O fim de Herculano
Naquelas mesmas horas os habitantes de Herculano vivem um drama parecido com o dos vizinhos pompeianos. De um lado não são castigados pela chuva de púmices mas, pelo outro, a ponte que permite o atravessamento do canal ao norte da cidade já foi levada pela violenta torrente de lama vulcânica. Só lhes resta esperar o socorro de embarcações militares (que nunca chegarão) ou aguardar o fim da erupção.
Mas a câmara do Vesuvius, não mais alimentada pelas águas do lençol, passa da fase freática à fase puramente magmática. Sem entrar em detalhes geoquímicos, isso significa que a coluna, agora de 26 quilômetros de altura, se torna mais pesada: consequentemente colapsa e recai ao longo dos declives do Vesuvius.
Assim, poucos minutos apóis a meia-noite, é gerado o primeiro Surge (um tipo de fluxo menos denso e mais turbolento que o piroclástico), denominado Surge 1 que varre Herculano em menos de trinta segundos; o Surge 1 atinge também os povoados Terzinho e Boscoreale, e a cidadezinha de Oplontis com uma velocidade de mais de 100 Km/h e temperatura interna de 500-600° C. Ninguém se salva.
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Em vão os habitantes de Herculano haviam procurado abrigo nos fórnices onde, de noite, os pescadores resguardavam seus barcos. Apesar de serem estruturas com espessas paredes de pedra, os gases incandescentes carbonizam todos em poucos segundos: o sangue e a água das células evaporam instantaneamente. A temperatura é tão alta que, em alguns casos, o cérebro das vítimas ferve e o crânio explode. A posição dos esqueletos mostra que as vítimas tiveram morte súbita.
Para ter uma idéia da tragédia, basta lembrar as consequências da erupção de 1.902 do Monte Pelée, situado no norte da ilha Martinica, nas Antilhas Menores onde o fluxo piroclástico destruiu totalmente a cidade de Saint-Pierre, matando quase instantaneamente, 30-40 mil pessoas e deixando apenas dois sobreviventes.
Apesar de tantos óbitos, os prédios de Herculano ficam quase intactos, mas por pouco tempo. Logo a cidade é atingida por uma sequência de fluxos piroclásticos muito mais densos e destrutivos que o primeiro. Como resultado final, a costa avança de bem 400 metros no mar e a cidade é sepultada por uma camada de 30 metros de lama vulcânica, sumindo literalmente do mapa por mais de 1.700 anos.
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Sempre durante a noite a coluna eruptiva chega à sua altura máxima de 32 quilômetros e um enésimo colapso produz o que os vulcanologistas chamam de Surge 2. Os gases incandescentes voltam a atingir Terzinho onde, porém, encontram apenas cadáveres.
Noite de terror
Ninguém dorme a Pompéia. A camada de púmices já ultrapassa 2,5 metros de altura e os telhados continuam ruindo. Uns escravos sobem nos telhados tentando empurrar a púmice para baixo, mas sem sucesso. Outras pessoas se escondem nos recantos mais íntimos de suas habitações mas, além dos telhados, o peso excessivo provoca o desabamento dos tetos e muitos são soterrados vivos. Os que moram em casas grandes devem também barrar o portão para impedir que os cômodos sejam invadidos pelas pedras. É uma luta sem esperança travada na escuridão, entre contínuos abalos sísmicos e cinzas finas que dificultam a respiração. Finalmente, quando o dia amanhece, a chuva de pedras ameniza e a maioria dos sobreviventes aproveita para sair de seus refúgios e rumar para os bairros meridionais tentando se afastar o mais possível do Vesuvius e da cidade. Eles não sabem que ambas as pontes sobre o rio Sarno já não existem mais.
Na luz incerta do alvorecer, a coluna de gases colapsa mais uma vez formando outro fluxo piroclástico, o Surge 3, que avança na direção de Pompéia; igual um tsunami desliza em silêncio até o lado norte da cidade onde, de súbito, pára. Mesmo assim, muitas pessoas que moram nas casas além da muralha setentrional são carbonizadas.
Às 7 horas a chuva de púmices termina e outros sobreviventes tentam alcançar o porto de Pompéia caminhando com extrema dificuldade sobre uma camada de quase três metros de material eruptivo. De repente são surpreendidos pelo Surge 4, uma nuvem de cinzas e gases corrosivos com temperatura de 200° C que viaja, silenciosamente, a 80 Km/h. Esse quarto Surge derruba a maioria das paredes dos andares que, desprotegidos, se erguem acima da camada de púmices. Quanto às pessoas, elas experimentam uma morte horrível, ainda pior que os herculanenses pois, dessa vez, não é instantânea.
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Meia hora depois é a vez do Surge 5, ainda mais denso e destrutivo que o anterior: se alguém, por milagre, ainda está vivo, agora não terá chances! Mas mesmo que alguém, escondido num porão profundo, tivesse sobrevivido, como teria conseguido, sem equipamentos, sozinho, no escuro e sem ar remover uma camada de vários metros de altura?
Enfim, às 8 horas, é a vez do Surge 6, o último e o mais apocalíptico de todos: a sua energia é tamanha que vai além de Pompéia alcançando a ilha de Capri e as cidades de Miseno e Estábia. Nessa última cidade, entre as vítimas está Plínio, o Velho que, como almirante da frota, havia tentado em vão realizar a evacuação.
A imagem seguinte mostra as camadas deixadas, em Oplontis (bem próxima de Pompéia), pelas chuvas de púmice (P1 e P2) e pelos últimos quatro Surges (S3, S4, S5 e S6). Só a camada P1+P2 mede três metros.
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Quantas vítimas?
Durante as escavações os arqueologistas encontraram, nas áreas atingidas pela erupção, as ossadas de 1.500 pessoas, mas é difícil acreditar que a tragédia tenha sido tão limitada. Faltam, por exemplo, os cadáveres achados durante as primeiras rudimentais escavações do XVIII século. Muitos fugitivos morreram afogados: no mar, enquanto tentavam se afastar em embarcações pesqueiras; na tentativa de atravessar a nado as águas buliçosas do rio Sarno. Outros, principalmente a Herculano, devem ter sido lançados ao mar pela violência das nuvens piroclásticas. Outros se encontram na parte de Pompéia (cerca um terço da cidade) que ainda não foi explorada ou nos campos fora da cidade. Sem contar as 150 fazendas localizadas nas encostas do vulcão e nas quais trabalhavam várias centenas de escravos. Estimativas, puramente teóricas, apontam para um total de 15-20 mil vítimas, mas nunca saberemos ao certo.
Poucos dias depois da tragédia, o imperador Tito visita os lugares do desastre, mas nada pode fazer se não recuperar, mandando escavar no foro de Pompéia, estátuas, mármores e os arquivos do cadastro municipal. Nos séculos seguintes outras erupções do Vesúvio irão esconder ainda mais os restos da cidade cujo nome será, por fim, esquecido por mais de dezesseis séculos.
O que para milhares de pessoas foi uma hecatombe sem precedentes, transformou-se numa sorte inesperada par os estudiosos de história romana. Para eles, a erupção foi um evento providencial que conservou um retrato tridimensional da vida romana do I século. Com efeito, muito do que sabemos sobre a vida cotidiana no Império Romano deriva não tanto do material escrito, mas das escavações de Pompéia e Herculano; o estudo da edilícia, da arte, da pintura e de muitas outras atividades seriam impossíveis sem a destruição de Pompéia.
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BIBLIOGRAFIA
Alberto Angela. I Tre Giorni di PompeiRizzoli, Milão (2014).
Lisetta Giacomelli et al. The euption of Vesuvius of 79 AD and its impact on human environment in Pompei.Episodes, Vol. 3 (2003).
Jean De Lavigny. Anarchia e Restaurazione. Edizioni Ferni, Ginevra (1973).
Wikipedia (em italiano, inglês e português).

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