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domingo, 19 de junho de 2022

O Tempo Existe?

 Fonte: Revista Galileu

Ciência



Segundo físicos e filósofos, o tempo pode não existir – e está tudo bem




Caso a hipótese se comprove, será inaugurada uma nova era da física, mas nossas vidas não serão impactadas diretamente, diz o filósofo da ciência Sam Baron

SE O TEMPO NÃO É UMA PROPRIEDADE FUNDAMENTAL DO UNIVERSO, ELE AINDA PODE “EMERGIR” DE ALGO MAIS BÁSICO (FOTO: SHUTTERSTOCK)


O tempo existe? A resposta a esta pergunta pode parecer óbvia: claro que sim! Basta olhar para um calendário ou um relógio. Mas os desenvolvimentos na física sugerem que a inexistência do tempo é uma possibilidade aberta e que devemos levá-la a sério.Como assim? E o que isso significaria? Vai demorar um pouco para explicar, mas não se preocupe: mesmo que o tempo não exista, nossas vidas continuarão normalmente.


Uma crise na física

A física está em crise. No último século, explicamos o universo com duas teorias físicas extremamente bem-sucedidas: a da Relatividade Geral e a mecânica quântica.


A mecânica quântica descreve como as coisas funcionam no mundo incrivelmente pequeno de partículas e interações de partículas. A relatividade geral descreve o quadro geral da gravidade e como os objetos se movem.


Ambas as teorias funcionam extremamente bem por si só, mas acredita-se que as duas entram em conflito uma com a outra. Embora a natureza exata do conflito seja controversa, cientistas geralmente concordam que ambas as teorias precisam ser substituídas por uma nova teoria mais geral.


Os físicos querem produzir uma teoria da “gravidade quântica” que substitua a relatividade geral e a mecânica quântica, enquanto captura o extraordinário sucesso de ambas. Tal teoria explicaria como o quadro geral da gravidade funciona na escala em miniatura das partículas.


Tempo na gravidade quântica

Acontece que produzir uma teoria da gravidade quântica é extraordinariamente difícil. Uma tentativa de superar o conflito entre as duas teorias é a teoria das cordas. A teoria das cordas substitui partículas por cordas vibrando em até 11 dimensões.


No entanto, a teoria das cordas enfrenta uma dificuldade adicional. A teoria das cordas fornece uma variedade de modelos que descrevem um Universo amplamente como o nosso, e não fazem previsões claras que possam ser testadas por experimentos para descobrir qual modelo é o correto.

Dizemos que as mesas, por exemplo, “emergem” de uma física subjacente de partículas zunindo ao redor do Universo.


Mas, embora tenhamos uma boa noção de como uma mesa pode ser feita de partículas fundamentais, não temos ideia de como o tempo pode ser “feito de” algo mais fundamental.


Portanto, a menos que possamos apresentar uma boa explicação de como o tempo surge, não está claro que podemos simplesmente supor que o tempo existe. O tempo pode não existir em nenhum nível.


Tempo e agência

Dizer que o tempo não existe em nenhum nível é como dizer que não existem mesas. Tentar sobreviver em um mundo sem mesas pode ser difícil, mas administrar um mundo sem tempo parece desastroso.


Nossas vidas inteiras são construídas em torno do tempo. Planejamos o futuro à luz do que sabemos sobre o passado. Nós responsabilizamos as pessoas moralmente por suas ações passadas, com o objetivo de repreendê-las mais tarde.


Acreditamos ser agentes (entidades que podem fazer coisas) em parte porque podemos planejar agir de uma maneira que trará mudanças no futuro. Mas qual é o sentido de agir para provocar uma mudança no futuro quando, em um sentido muito real, não há futuro pelo qual agir?

Qual é o sentido de punir alguém por uma ação passada, quando não há passado e, portanto, aparentemente, nenhuma ação? A descoberta de que o tempo não existe poderia levar o mundo inteiro a um impasse. Não teríamos motivos para sair da cama.


Os negócios de sempre


Existe uma saída para a confusão. Embora a física possa eliminar o tempo, parece deixar intacta a “causalidade”: a ideia de que uma coisa pode provocar outra.


Talvez o que a física esteja nos dizendo, então, é que a causalidade, e não o tempo, é a característica básica do nosso universo.


Se estiver certo, então a agência ainda pode sobreviver. Pois é possível reconstruir um senso de agência inteiramente em termos causais.


Pelo menos, é isso que Kristie Miller, Jonathan Tallant e eu discutimos em nosso novo livro [Out of Time: A Philosophical Study of Timelessnes, sem edição em português]. Sugerimos que a descoberta de que o tempo não existe pode não ter impacto direto em nossas vidas, mesmo quando impulsiona a física para uma nova era.


* Sam Baron é professor associado na Universidade Católica Australiana. Este artigo foi originalmente publicado em inglês no site The Conversation.
















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