Após deparar-me com uma cena da novela Viver a Vida, em que a personagem Leila, 'sorrindo', derrama gasolina e atea um fósforo aceso para incendiar a rival, herdeira de uma fortuna que ela gostaria que fosse dela, após golpeá-la com uma barra de ferro, lembrei-me da declaração cínica de um bandido, num desses programas de televisão que espetacularizam a violência urbana. Perguntado por que atirou na vítima já que ela não tinha reagido, o bandido respondeu: "porque acho divertido". Deve ter sido divertido, também, para o bandido do Maranhão incendiar o ônibus em que estava a menina Ana Clara de apenas 6 aninhos e que foi queimada viva no dia três de janeiro de 2014. É isso, matar passou a ser divertido, não só na ficção como também na vida real. A qualquer hora do dia ou da noite você pode perder a vida sem mais nem menos por bandidos que querem apenas se divertir roubando seu celular, sua loja, ou então seu carro para assaltar mais adiante. E a televisão mostra com 'vale a pena ver de novo' durante a semana. Mostrar violência é liberdade de expressão que dá audiência. E, já que dá audiência, por que não mostrá-la cinematograficamente? É mais emocionante. "Viver a vida" hoje em dia significa está preparado para morrer a qualquer momento de uma forma divertida para quem "não tem nada com isso" e que fica assistindo passivamente pela televisão, nos mínimos detalhes, já que, nos dias atuais, tudo é filmado por câmeras que não intimidam. Alguns atores do crime até sorriem garbosos diante dela. Só gostaria de saber qual a utilidade de mostrar toda a ação dos bandidos nos diversos canais de televisão, alguns com chamadas na abertura, como é o caso do Fantástico. Não seria mais proveitoso usar esse espaço para protestar e chamar os governantes à responsabilidade? Enquanto tudo isso acontece, os políticos discutem sobre quem tem ou não chance de ganhar as eleições no ano da Copa. Apreciando, como telespectador, ou "acompanhando com atenção", como disse a presidente Dilma no caso da crise do Maranhão da sua companheira Roseana Sarney, sem nada fazer. Crime deixou de ser manchete de exceção e passou a ser regra, coisa corriqueira, neste país. Espantoso vai ser o dia em que os jornais noticiarem " Hoje não houve crime na cidade".Ninguém vai ler.
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