Opinião
Quem já passou de meio século de vida pode falar com propriedade de
"antigamente era assim". Sei que hoje em dia as coisas mudam muito
rapidamente e é comum você ouvir até uma criança falar em antigamente. Quando
menina, e isso já se vão muitos São Joãos, as escolas públicas, por exemplo,
eram tidas como as mais confiáveis, principalmente as de ensino médio. Claro
que havia muitas particulares que tinham um bom ensino, mas ninguém se sentia
excluído por estudar em escola do governo. O Colégio Central da Bahia era um
desses estabelecimentos de ensino público que envaidecia o aluno que por ele
passasse. As instituições funcionavam bem melhor que hoje em vários setores,
não só na educação como também na saúde e seguridade social. Lembro do IAPI,
IAPC, IAPTEC, IAPSEB, INPS, etc.; existiram outras instituições que não
alcancei, instituídas na década de 30 a partir do governo Vargas. Não vou
me deter na história da seguridade social que começou no final do século XIX (1889) no
governo do Chanceler alemão Otto Von Bismarck. A partir de 1990 o INAMPS passou
a chamar-se INSS (Instituto Nacional de Seguridade Social). Até então as coisas
pareciam funcionar razoavelmente. Lembro, quando ainda era professora do
estado, que fui muito bem atendida pelo IAPSEB na ocasião em que precisei
fazer uma cirurgia, e não tinha outro plano de saúde particular como
tenho hoje, já que o atual Planserv deixa muito a desejar. Muitos médicos
atendiam em seus consultórios particulares pelo antigo INPS. Atualmente, o SUS
(Sistema Unico de Saúde), criado em 1988 pela Constituição Federal, considerado
um dos maiores sistemas públicos de saúde do mundo, enfrenta problemas
políticos e de gestão, o que o impede de cumprir com o seu objetivo.
Estou mencionando tudo isso para
dizer que onde as instituições não funcionam bem o caos se instala. O que
existe é uma má gestão pela incapacidade e politização das instituições e uma
corrupção desenfreada. É por esse motivo que vemos a toda hora a polícia se digladiando
com manifestantes nas ruas e sendo acusada de despreparada e violenta.
Não é a polícia que vai resolver as
mazelas deste país. Ela é apenas um braço dessa estrutura mal governada. Estão
jogando a responsabilidade para um órgão que existe para manter a ordem dentro
de um conjunto de normas que tem que ser bem administradas. A polícia não tem
culpa da insatisfação do povo, ela também é vítima. Combater o tráfico de
drogas e o crime organizado requer muito mais que ocupação de favelas pelas
UPPs. Os usuários de crack são produtos de uma sociedade doente, que vivem à
margem, ignorados pelas autoridades que preferem fechar os olhos para o
problema e mandar a polícia agir da forma que ela sabe. O que pode a polícia
fazer diante de pessoas insatisfeitas com as condições de vida que levam?
Acredito que os que entram no mundo das drogas gostariam de não estar ali.
Seja ele um viciado ou um traficante. Nesse mundo globalizado, competitivo e
capitalizado em que necessidades são criadas a partir de ofertas que estimulam
o desejo através da mídia, os que se sentem excluídos acabam por apelar para
alguma forma de satisfação. E a situação se agrava quando se olha ao redor e
não vê saída. Se o individuo não tem educação, saúde e consequentemente
emprego, enquanto outros têm tudo, e, além disso, seus representantes políticos
decepcionam com casos de corrupção, o jeito é protestar de alguma forma. É
evidente que a melhor saída não são as drogas ou a violência, mas o que fazer
quando não se tem a quem reclamar? É fácil criticar a violência policial que,
em alguns casos, é exagerada, mas se imaginar na pele deles em momentos de
difícil controle não o é. Enquanto as instituições deste país estiverem
fora dos eixos, povo e polícia irão se debater inutilmente por muito tempo.
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