No século XlX a cadeirinha de arruar* por muito tempo constituiu o único meio de condução, entre nós, nos ombros dos africanos. A princípio a cadeirinha era privilégio dos fidalgos, magistrados, médicos clínicos, professores notáveis, senhores de engenho, comerciantes, vigários e cônegos, enfim, era um distintivo de abastança porque nem todos podiam manter certo número de africanos somente para o serviço da cadeirinha. Podia-se ver dezenas de cadeirinhas em ocasião de casamentos e batizados ricos conduzindo os noivos, padrinhos e convidados. Quatro carregadores (ou duas parelhas como se dizia na época), custavam um conto de réis. A cadeirinha do potentado se destacava pelos trajes dos carregadores e pelas cores vivas: trajavam casaca de pano azul com portinholas, botões dourados ou encarnados; calças do mesmo tecido, agaloadas; chapéu alto de oleado com galão de ouro; colete de flanela clara com botões dourados e gravata de manta. A cadeirinha de arruar era muito usada pelas mulheres. As senhoras com vestidos guarnecidos de ouro e prata, cheias de jóias, trazendo à cabeça chapelinhas* bem enfeitadas, prendiam as cortinas da cadeirinha para expor seu luxo e riqueza á curiosidade e admiração.
As senhoras ou jovens recatadas fechavam a cadeira para não serem observadas
Posteriormente a cadeirinha foi perdendo o valor e os menos abastados puderam alugá-las.
A lei n. 223 de 3 de maio de 1845 concedeu privilégio por dez anos a quem quisesse estabelecer uma companhia de Ônibus( Gôndolas).
Por muito tempo existiu uma certa repugnância por parte das senhoras em tomarem as gôndolas. Foi a condessa de Barral, ( paixão do Imperador D. Pedro ll ) nobre dama de educação esmerada, a primeira mulher a se servir desse meio de condução, fazendo propaganda em seu círculo de amizade, conseguindo com isso vencer a resistência. Nas gôndolas só tinha ingresso as pessoas decentemente vestidas. Não se fumava nem havia rusgas com os condutores.
Soldados, marinheiros e praça de polícia, embarcavam em vapores.
* arruar quer dizer andar nas ruas.
**chapelinha - Chapéu baixo,de abas largas, enfeitado de flores ou plumas vistosas, para uso de senhoras em dias de festas.
Fonte: Manuel Querino -A Bahia de Outrora
Ilustração - fotos google.
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