A nova novela das seis, que entra no ar nesta segunda-feira próxima, dia 10, na Rede Globo de Televisão, começa cometendo um erro genético. A menos que se trate de adoção ou traição, a filha do casal não poderia ter olhos escuros sendo descendente de pais com olhos claros. Se não é para levantar suspeitas quanto a paternidade da personagem na história, aconselho providenciarem uma lente de contato urgente, antes que a novela deslanche. Um bom trabalho para o continuista.
Em se tratando de caráter recessivo, no caso olhos claros (azuis ou verdes), a manifestação destes genes só se dá em dose dupla. Ou seja, pai e mãe têm que trazer no seu genoma genes para cor dos olhos claros herdados dos antecessores. Então, os filhos deste casal, de olhos claros, serão todos de olhos claros. Jamais este casal terá filhos de olhos escuros porque no seu genoma o gene para olhos escuros está ausente. Se fosse o contrário, os pais tivessem olhos escuros e a filha olhos claros seria possível, porque um casal de olhos castanhos pode ser heterozigoto, ou seja, com metade de genes para olhos claros e outra metade para escuros. Neste caso se a filha herdasse exatamente as duas metades para cor dos olhos claros, vindo da mãe e do pai, seus olhos seriam claros. Mas, a simples presença de um dominante impede que o lado recessivo se manifeste.
Acredito que muitos capítulos já devam estar gravados, e, mesmo se tratando de ficção, é bom que o autor da história se preocupe com o assunto, porque de outra forma os alunos dos professores de Biologia vão pensar que estão aprendendo errado, já que as novelas da Globo costumam ser formadoras de opinião e o público cativo incorporar como correto.
Não é a primeira vez que observo episódio semelhante. Há casos de casais de personagens brancos, de cabelos lisos e claros, com filhos morenos de cabelos crespos. Não digo que é necessário um estudo científico para se fazer uma novela, mas seria interessante um melhor cuidado nas escolhas dos atores que irão interpretar um determinado personagem. Em se tratando de literatura, a descrição do personagem muitas vezes leva o leitor a imaginar do seu jeito. Mas personagem televisivo não dá muita margem a imaginação.
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