"Os impactos dos agrotóxicos na Saúde Pública abrange vastos territórios e envolvem diferentes grupos populacionais", afirma a Abrasco ( Associação Brasileira de Saúde Coletiva) em seu dossiê publicado em abril.
Não apenas agricultores e seus familiares são vítimas potenciais, mas milhares de profissionais envolvidos na comercialização e manipulação dessas substâncias e, todos nós, diariamente a cada refeição, estamos ingerindo esses princípios ativos. "Hoje todo mundo come veneno", diz o agricultor Jeferson Matias da Rosa, de Boa Vista das Missões (RS) no artigo publicado na Revista Ciência Hoje.
Muitos dos insumos agroquímicos, que já foram banidos de outros países, devido a elevados graus de toxidades, tem o Brasil como endereço certo. Inseticidas, herbicidas, fungicidas, nematicidas, moluscidas, formicidas, acaricidas, rodenticidas e mais cidas. O endolssulfam usado amplamente em cultura de soja, café, algodão e cacau, é um dos mais vendidos no Brasil. Este já foi banido em 45 países. A Anvisa pretende bani-lo até julho de 2013. Acredita-se que ele é um provável desregulador endócrino e responsável por danos irreparáveis no sistema reprodutivo. Também a cihexatina - carcinogênica e neurotóxica - empregada nas plantações de café, laranja, maçã (esta é bom comer sem a casca), morango e pêssego. Esta substância foi proibida apenas no final de 2011 e está na lista negra da Anvisa. Ela é ilegal na Austrália, China, Japão, Tailândia, Líbia, Paquistão, Canadá e Estados Unidos. Também nas plantações de alface e tomate já foi proibido, desde junho último, o uso do metamidofós, poderoso genotóxico e neurotóxico. Como se isso tudo não bastasse ainda temos casos de uso de agrotóxicos vencidos, adulterados e ilegais, em propriedades rurais e nos estoques de indústrias agroquímicas, encontrados pelo Ibama e Anvisa em todo Brasil. A lista é imensa: Syngenta (suíça) Bayer (alemã) Basf (alemã). Nas Monsanto (norte-americana) Dow AgroSciences, Nufarm, Milenia Agrociências, Ilhabras, Sipicam Isagro Brasil FMC Química do Brasil, foram encontradas irregularidades por omissão de informação no processo de produção de seus agrotóxicos. Ao todo, quase 10 milhões de litros agroquímicos adulterados, vencidos, ou fora dos padrões da Anvisa, que estavam prestes a ser destinados às lavouras brasileiras.
Fiscalizar é tarefa desafiadora. Segundo o engenheiro e economista Victor Pelaez da Universidade Federal do Paraná (UFPR), temos apenas 77 funcionários para dar conta de gerir e fiscalizar as atividades do setor em todo o território nacional, mesmo sendo o país o maior mercado para esses produtos.
Dados importantes: na última década o consumo de agrotóxico no mundo cresceu 93%. Mas no Brasil, segundo a Anvisa, esse crescimento foi de 190%. Na safra de 2011 nossa agricultura consumiu 936 mil toneladas de agrotóxicos, dos quais, 80% foram destinados ao cultivo de soja, milho, algodão e cana de açúcar. Ou seja, fazendo a conta isso equivale a 5kg de agrotóxico anuais per capta.Segundo dados do Programa de Análises de Resíduos de Agrotóxicos em alimentos, em 2010, pelo menos um terço das 2.488 amostras de frutas, verduras e legumes coletadas foram consideradas insatisfatórias. Destes podemos dar um alerta máximo para o pimentão, que teve 91% das amostras com níveis de toxidade acima do permitido; o morango 63%, pepino 57% e cenoura49%. O tomate é uma das culturas onde são utilizadas grandes quantidades de agrotóxicos.
Há quem defenda o uso dos agrotóxicos argumentando que esta é a única forma de produzir alimento mais barato para a população. Porém nem todos concordam. O agricultor Fernando Ataliva, de Indaiatuba (S.P.)
garante que não há nenhuma dificuldade técnica em si produzir alimentos orgânicos sem agrotóxicos para alimentar a população e cita exemplo de seu próprio sítio.
Até 2050 a população terrestre chegará, provavelmente, a 9 bilhôes, hoje já com 7 bilhões. Pergunta-se: Será que haverá uma forma realmente alternativa de se produzir alimento saudável para toda a população?
Com a palavra as lideranças políticas atuais.
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